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Blockchain para rastreamento de medicamentos: casos reais globais (Índia e Alemanha)

  • Foto do escritor: Henrique Nixon
    Henrique Nixon
  • há 19 minutos
  • 4 min de leitura

Por que falar de blockchain no rastreamento de medicamentos


Garantir a autenticidade e a rastreabilidade de medicamentos é um desafio estrutural: muitas etapas, diversos atores e dados espalhados entre fabricantes, distribuidores, hospitais e farmácias. O blockchain para rastreamento de medicamentos entra como uma camada de confiança que registra eventos de forma imutável e auditável, reduzindo assimetria de informação e facilitando verificações ao longo da cadeia. Revisões de literatura recentes apontam que o uso em cadeias farmacêuticas vem ganhando tração justamente por transparência e integridade de dados, ainda que com desafios de interoperabilidade e governança.


Blockchain para rastreamento de medicamentos

Caso Índia: vacinas com rastreabilidade ponta a ponta


Na Índia, a StaTwig, startup nascida em Hyderabad (Telangana), desenvolveu o VaccineLedger, uma solução baseada em blockchain para acompanhar o percurso de frascos de vacinas ao longo da cadeia — do fabricante ao beneficiário — com foco em visibilidade quase em tempo real das condições e da localização. A iniciativa recebeu apoio do UNICEF Venture Fund e do Gavi INFUSE, reforçando o caráter público-intersetorial da proposta.


Além do reconhecimento internacional, houve parcerias industriais para escalar a plataforma. A Tech Mahindra anunciou colaboração com a StaTwig para implementar o VaccineLedger globalmente como camada de rastreabilidade, lidando com riscos de vencimento, stock-outs e falsificação — uma agenda crítica em cadeias frias. A arquitetura combina blockchain permissionado com IoT e analytics em infraestrutura AWS, privilegiando integridade de dados e compliance operacional.


O aprendizado central desse caso indiano é pragmático: começar por um recorte de alto impacto (cadeia de vacinas), integrar sensores e sistemas legados, e oferecer às autoridades e parceiros uma trilha de auditoria clara — condições necessárias para confiança e tomada de decisão mais rápida em cenários críticos.


Caso Alemanha: padrões europeus e protótipos industriais


Na Europa, o combate a medicamentos falsificados é regido pela Falsified Medicines Directive (FMD), que estabelece regras de serialização e verificação em toda a União Europeia. Embora o FMD não exija blockchain, o ecossistema alemão participa ativamente de projetos e pilotos que exploram a tecnologia como camada adicional de verificação e troca segura de informações.


Um destaque é o PharmaLedger, consórcio europeu que desenvolveu protótipos baseados em blockchain para verificação de produto e ePI (electronic Product Information). No ePI, o código do medicamento (GTIN + lote) pode ser usado como “chave” para resolver, via blockchain, o responsável pela autorização de comercialização e, então, entregar a bula digital correta — um caminho para confiança e atualização contínua de informações ao paciente e aos profissionais. Empresas e associações com presença na Alemanha participaram do esforço, que evoluiu para a PharmaLedger Association (PLA), focada em amadurecer produtos digitais pós-projeto.


No âmbito industrial, empresas alemãs também testaram abordagens de rastreabilidade e anticonsumo de falsificados. A SAP lançou o Information Collaboration Hub for Life Sciences, incluindo ofertas baseadas em blockchain para colaboração segura entre parceiros e verificação de retornos — alinhado às obrigações de serialização e autenticação. Em paralelo, Boehringer Ingelheim e SAP apresentaram um smart app para rastrear e autenticar medicamentos (prototipado com foco de uso nos EUA), ilustrando como fabricantes podem empacotar verificação em experiências operacionais.


Outro vetor relevante vem da Merck KGaA (Darmstadt), que estudou aplicações de blockchain como parte de uma estratégia mais ampla de segurança de cadeia, incluindo patentes voltadas à criação de “crypto-objects” para autenticação e ligação entre itens físicos e registros digitais — sinal de que a pesquisa aplicada sobre integridade e proveniência segue no radar corporativo alemão.


O que esses casos ensinam (sem prometer milagres)


Tanto Índia quanto Alemanha mostram que o blockchain para rastreamento de medicamentos prospera quando há escopo claro, parcerias multissetoriais e integração com padrões existentes. Na prática, blockchain não substitui serialização nem sistemas regulatórios: ele complementa com uma camada de registro distribuído, imutável e auditável, que melhora a confiança entre participantes e a visibilidade em tempo quase real. Revisões acadêmicas reforçam essa leitura, ao mesmo tempo em que lembram dos desafios de interoperabilidade, privacidade e scalability que precisam ser tratados caso a caso.


Outro ponto em comum é a governança. Projetos bem-sucedidos definem quem pode ler e escrever na rede, como os dados são minimizados, quais eventos justificam registros on-chain e como ocorre a reconciliação com sistemas regulatórios. O desenho costuma evitar promessas genéricas de “fim da falsificação” e, em vez disso, foca em processos mensuráveis: melhoria da capacidade de auditoria, rapidez na detecção de desvios e redução de disputas sobre a origem da informação — ganhos que derivam tanto do design off-chain quanto do ledger.


Caminho de implementação para organizações de saúde e indústria


Para quem deseja explorar o tema, a rota mais segura é começar pequeno. Eleja um fluxo específico (por exemplo, cadeia fria de um imunobiológico ou verificação de devoluções), mapeie fontes e eventos que realmente precisam de prova de integridade, e conecte o ledger a IDs e padrões já adotados (como GTIN e diretrizes de serialização). Em etapas seguintes, amplie atores na rede e automatize reconciliações, mantendo sempre um plano de interoperabilidade com o que a regulação local já exige.


Em paralelo, alinhe papéis e responsabilidades: quem opera nós, quem audita registros, como tratar exceções e qual é a política de retenção. Esses acordos evitam que a tecnologia vire um silo novo e ajudam a traduzir benefícios para as áreas que vivem o processo na ponta — logística, qualidade, farmacovigilância e faturamento.


Conclusão


Casos reais na Índia e na Europa (com participação ativa de atores alemães) mostram que o blockchain para rastreamento de medicamentos evolui melhor quando é tratado como infraestrutura de confiança acoplada ao que já funciona: serialização, padrões de dados e processos regulatórios. Não se trata de reinventar a cadeia, mas de tornar verificável aquilo que precisa ser verificado — e fazer isso de modo colaborativo, auditável e proporcional ao risco. Ao priorizar escopos de alto impacto e medir resultados operacionais, a tecnologia deixa o campo da promessa e passa a entregar valor concreto na segurança do paciente e na integridade do mercado.



 
 
 

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